Semeador de orquestras

Semeador de orquestras

O maestro Murilo Alves é um dos mais dinâmicos profissionais da música matogrossense, com atuação na capital e em algumas cidades do interior



Para Murilo, não tem sentido ter orquestra sem plateia, e então ele se engajou também num trabalho de formação de público para a música orquestral, que vem dando certo
Martha Baptista
Da Reportagem

Formar músicos para orquestras sinfônicas é a bandeira principal do maestro Murilo Alves, um paranaense de 36 anos, que fez toda sua formação musical em Mato Grosso para onde se mudou aos cinco anos. Mas, como não tem sentido ter orquestra sem plateia, ele se engajou também num trabalho de formação de público para a música orquestral.

Essa missão tem levado o maestro e seus músicos a vários municípios mato-grossenses. Recentemente a Orquestra Jovem de Mato Grosso, integrada por músicos egressos do Projeto Ciranda e da Escola de Artes de Nova Mutum – duas frentes de trabalho de Murilo Alves – apresentou-se sob sua regência para uma plateia estimada em cerca de três mil pessoas num concerto promovido pela Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), em Cáceres (a 210 km de Cuiabá).

“Foi emocionante! Em Cáceres pode acontecer o que já está acontecendo em Nova Mutum (a 250 km da capital, no Médio-Norte), onde a comunidade local buscou a parceria do poder público para formar músicos de orquestra. A Escola de Artes tem 150 alunos (de nove a 18 anos) e a orquestra já está se apresentando”, conta Murilo, que vai se empolgando à medida em que expõe seus planos e sonhos. Ele acredita que quando se trabalha na formação de uma orquestra sinfônica está se capacitando músicos para atuar em várias frentes: desde um grupo de pagode a um quinteto de metais ou um quarteto de cordas, do popular ao erudito.

UNIVERSO SINFÔNICO

O trabalho com educação musical começou há uma década em Cuiabá e alguns ex-alunos do Projeto Ciranda, hoje presidido por Murilo Alves, estão tocando profissionalmente e auxiliando o mestre na difusão dos conhecimentos pelo interior. “O que mais me emociona e me motiva é ver essa geração começando a repassar seus conhecimentos”, conta o maestro, cujo maior sonho é criar núcleos orquestrais em vários municípios e ter uma grande orquestra sinfônica estadual para receber os músicos.

Como Murilo não é homem de ficar só no plano dos sonhos, ele já está se mexendo para promover em Cuiabá, até o final deste ano um grande concerto da Orquestra Jovem de Mato Grosso, com aproximadamente 150 músicos procedentes da capital e do interior “para mostrar essa força” do universo sinfônico. Outro plano, acrescenta, cujas sementes já foram lançadas, é criar um curso de bacharelado em música através da Unemat. “Está se criando uma demanda por bacharéis em música”, acredita.

CONCERTOS DIDÁTICOS

O dia de Murilo Alves é curto para todas as atividades da qual participa: curso para regência de bandas (em parceira com a Secretaria de Estado de Cultura) e a série de concertos didáticos da Orquestra do Estado de Mato Grosso (OEMT), que estão acontecendo em Cuiabá e alguns municípios do interior.

Os concertos didáticos fazem parte da temporada oficial da OEMT, cuja direção artística é de Leandro Carvalho, e visam justamente à formação de um público jovem para a música orquestral. Eles representam uma oportunidade única para estudantes (de escolas públicas e particulares) assistirem a um concerto especialmente concebido para sua faixa etária. Nesta quinta temporada, a OEMT decidiu apresentar a “Ópera dos três vinténs”, de Bertold Brecht e Kurt Weill. O espetáculo tem direção cênica de Juliana Capilé e duas atrizes – interpretando personagens da peça – tentam contar um pouco da famosa história de Brecht (que serviu de inspiração para “A ópera do Malandro”, de Chico Buarque de Hollanda), enquanto a orquestra ataca com os belos temas de Weill.

Antes das apresentações, Murilo fez oficinas com os professores das escolas e distribuiu um kit sobre a obra, de modo a preparar seus alunos para apreciar mais o espetáculo. Toda essa preocupação certamente tem a ver com a formação do maestro, que se graduou em Música (licenciatura) na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), fez mestrado na instituição e destaca dois professores em sua formação: Flávia Vieira na graduação e Roberto Vitorio (seu orientador de mestrado). “Eles me ensinaram o caminho das pedras”, diz. Murilo continua investindo em sua formação: há cinco anos faz curso de férias em Londrina com o maestro Daisuke Sogo, regente da Filarmônica de Tóquio, e com o português Osvaldo Ferreira, titular da Sinfônica de Curitiba. Realmente ele respira música orquestral 24 horas por dia! 
 
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