Para apaixonados por violão, Villa-Lobos e Brouwer

A professora Teresinha Prada trouxe-nos suas pérolas e luz do conhecimento

Suscitando o mestre Fernando Pessoa: “Ai que prazer não cumprir um dever. Ter um livro pra ler e não o fazer. Ler é maçada, estudar é nada.” Com todo respeito ao poeta lusitano. Mas como é delicioso o encanto da leitura. A sensação de obrigação satisfeita. Estudar aclara a mente e traz avanço ao espírito. Mesmo em tempos de preguiça náutica proporcionada pela Internet. Ler é uma dívida com a própria consciência, especialmente em casos como o livro recentemente lançado pela minha colega na UFMT. A Professora Doutora Teresinha Prada trouxe-nos suas pérolas e luz do conhecimento. Ela que já é nossa apreciada violonista publicou: “Violão: de Villa-Lobos a Leo Brouwer”. Este é o título de sua dissertação de mestrado em ‘musculosas’ 223 páginas. Mais de 140 textos e autores percorridos, estudados e mapeados.

Adorável seu senso metodológico. Isso demonstra que um trabalho acadêmico pode ser também leitura prazerosa, nem só para músicos iniciados. Em cinco capítulos a autora discorre com maestria sobre o contexto histórico latino americano e um paralelo étnico entre Cuba e Brasil. Curiosas passagens sobre a cultura musical em Havana antes e durante a ascensão ao poder de Fidel Castro. O compromisso estético da Pós Modernidade obteve freqüência. Sartre é lembrado quando a autora toca no tema do Marxismo e a obra de arte socialista. Nada mal em tempos de derrocada do ‘Capitalismo Digital’ perverso e desumano. A estratégia de exposição da doutora Prada abrange no segundo capítulo a trajetória do violão no Brasil e em Cuba. Do choro carioca até as ‘seguidillas’ dançadas na ilha caribenha. A genealogia da arte violonística e seus melhores intérpretes dos dois países são detalhados com requinte.

No terceiro capítulo iniciam-se as doces coincidências na vida de Villa-Lobos aproximando-o do compositor Leo Brouwer. Na juventude o brasileiro tocava ‘zarzuelas’ no Teatro Recreio ao violoncelo. Villa soube receber severas críticas de jornalistas autorizados de sua época. A ponto de ser chamado no Jornal O Comércio de “enfant terrible”. O texto aborda escrito do Maestro Alceo Bocchino que será homenageado nesta 3.ª Bienal de Música Contemporânea. Evento que demonstra a excelência do labor desenvolvido por seus dirigentes, pelo Instituto de Linguagens e o Departamento de Artes da UFMT. A seguir, para estudantes e aficionados do violão, a Profa. Teresinha analisa musicalmente algumas obras do mestre.

Estava eu já agora bem estimulado a conhecer a vida e obra do cubano Leo Brouwer. Esta é a proposta do capítulo quatro. Entre ‘tanguillos e farrucas’ o jovem Leo, assistia seu pai. Este de origem holandesa, tocar os Choros n.º 01 de Villa somente de ouvido, mas sem errar nada. Era sua herança musical. O rapaz, então com 18 anos freqüentava debates e dava palestras nas sociedades culturais cubanas. Brouwer tem acesso a estréias mundiais de obras dos compositores da elite vanguardista na música da época: Ligeti, Stockhausen, Penderecki e Xenakis. Prada volta a analisar obras, desta feita do cubano inspiradas na ‘conga’ e ‘rumba’ antilhana.

Nem me atrevo a adiantar o desfecho do livro feito no quinto capítulo e conclusão. Deixo que a curiosidade os mova até a livraria de vossas predileções da cidade. Somente faço um último registro. Teresinha Prada é uma autora de domínio acadêmico, versada na língua castelhana. O que por si só demonstra, além da escolha temática, seu compromisso com a Cultura Musical da América Latina, sem estrangeirismos. Portanto: nossos sinceros aplausos com distinção e louvor!

SERVIÇO: O que é? Livro: “Violão: de Villa-Lobos a Leo Brouwer” – Autora: Teresinha Prada – Onde? http://www.terceiramargemeditora.com.br


Ney Arruda
Especial para o Diário de Cuiabá

*Ney Arruda é professor universitário, doutorando pela Universidad de Burgos (Espanha), advogado, violinista cuiabano e colabora com o DC Ilustrado, (neyarruda@gmail.com)
 
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